sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Sorrentino: Educação Ambiental como forma de gestão


 "Objetivo é  instituir uma política ambiental no MEC"
O professor da ESALQ/USP Marcos Sorrentino é referência internacional na área de Educação Ambiental. Foi diretor do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA) na gestão Marina Silva, quando ampliou a execução do departamento com atividades em todas as regiões. Várias foram as iniciativas de destaque, uma delas: a criação do o Sistema Nacional de Educação Ambiental (SisNEA).

De volta a Brasília, desde janeiro deste ano, Sorrentino agora é assessor do gabinete do ministro da Educação, Aloísio Mercadante. 
O atual ministro tem sinalizado que pretende garantir o selo ambiental na sua gestão. E Sorrentino comprou a briga: “Como apoio do ministro teremos meios de aprimorar as iniciativas de Educação Ambiental dentro e fora do MEC”, aposta. Sorrentino gentilmente receber a equipe do Blog do São Francisco para uma conversa sobre as perspectivas da Educação Ambiental na atual gestão do Ministério da Educação (MEC).

Sorrentino: "Financiamento da Educação Ambiental sempre foi um gargalo"

Blog – Quais são os principais projetos da sua gestão aqui no MEC?


Sorrentino – A responsabilidade que me foi atribuida pelo ministro Mercadante, para esses próximos dois anos do governo Dilma, é contribuir com a construção de uma política ambiental para o MEC. Política essa que incorpore a lógica ambiental na própria gestão interna da Casa. Além disso, vou me empenhar para fortalecer as ações da equipe da Educação Ambiental do MEC, que tem carência e recursos e de pessoal.


Blog – Vai abrir frentes de trabalho no âmbito interno e externo então...


Sorrentino – Sim, uma política integral deve ser construída em quatro campos. O primeiro é interno, o MEC tem de dar o testemunho daquilo que está propondo para a sociedade. Precisamos instituir uma comissão interna de cultura e Educação Ambiental, que “ambientalize” cada um dos setores da casa e dialogue com todas as suas vinculadas: universidades, fundações, etc. São cerca de 600 mil servidores, ao todo. Dá para pensar num vigoroso programa de “ambientalização” dentro da área da Educação.

Já o terceiro campo de atuação será dentro do Programa Município Educador sustentável, iniciativa do Ministério do Meio Ambiente que durou entre 2003 e 2008, mas que agora o Ministério da Educação pode revigorar. Sabemos que uma escola só poderá ser efetivamente sustentável se o município assumir sua responsabilidade educadora.
E, pro fim, a quarta frente é a das relações internacionais que busca apoio junto às outras nações e organismos internacionais para a expansão da Educação Ambiental não só no Brasil, mas em nível global.

Blog – E o projeto dos Coletivos Educadores, iniciativa promissora, mas que está meio esquecida. Eles podem ser revitalizados?



A segunda é nos empenharmos na execução do Programa da Escola Sustentável, que durante a Rio+20 o Ministro Mercadante destinou R$ 100 milhões. Ele precisa ser um programa orgânico e não mais uma iniciativa vaga-lume – que acende e apaga. Precisa ter organicidade, trabalhando junto com as Conferências Nacionais Infantojuvenil e do Meio Ambiente e todos os outros programas do MEC,com o Mais Educação, por exemplo.

Blog – Como estão os preparativos para a 4ª Conferência Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, que será realizada em novembro deste ano?

Sorrentino – Os Ministérios do Meio Ambiente e da Educação estão trabalhando em sintonia. O MMA já contratou três consultores mobilizados para os preparativos da Conferência. E o MEC, por sua vez, vem estimulando a criação de comissões estaduais. 

Muitas já estão em atividade, trabalhando com escolas, fomentando em sala de aula o debate sobre os porquês da participação na Conferência. O problema é que o MEC ficou de publicar materiais didáticos sobre o encontro. Mas a publicação atrasou. De qualquer forma, assim que estiverem prontos, irão direto para a internet. Depois enviaremos os impressos às escolas.


Sorrentino – Na diretriz que formalizei como Ministro Mercadante, inclui a importância dos Coletivos Educadores. Vejo que os conselhos municipais de educação devem ser parceiros privilegiados para a construção desses coletivos. Seja com o próprio conselho cumprindo esse papel de coletivo educador; seja criando um braço exclusivo para esse objetivo, que, por sua vez, pode ter inclusive ação regionalizada.


Blog – Há hoje uma grande proliferação de cursos de Educação Ambiental em instituições de ensino superior. Qual sua avaliação da média desses cursos?

Sorrentino – De fato está havendo uma multiplicação desses cursos.  Até induzidos pela necessidade de as universidades públicas aumentarem o caixa. Mas boa parte deles é frágil na disseminação dos conhecimentos acumulados, seja em relação à atualidade da política ambiental, à pesquisa, etc.

Para enfrentamos essas questões o ideal seria desenvolvermos um programa de pós-graduação interinstitucional em rede, que envolvesse diversas universidades Brasil a fora e que formasse especialistas em gestão municipal, escolar ou para trabalhar em movimentos sociais. Pensando nisso já iniciamos uma conversa com a Capes para encampar esse projeto.

Blog – Como você acha que o MEC pode colaborar com a Rede Planetária e o Tratado de Educação Ambiental e Responsabilidade Global?

Sorrentino – O Tratado abre frentes promissoras de atuação. Durante a Rio+20, foi formada uma rede, que integra governos e sociedade civil. Essa rede já rendeu frutos: Junto com a Rede Planetária e a Secretaria de Políticas Indígenas do Estado do Amazonas estamos traduzindo o Tratado para as 11 línguas indígenas faladas ali.

Ganha os povos indígenas, ganha o Ministério porque, por meio dessa iniciativa, vai poder mapear a diversidade linguística do país. No Brasil, há 160 línguas, algumas delas com cinco seis falantes sem que ainda tenha sido gramaticalmente mapeada.

Blog – Abrindo um pouco mais os temas da entrevista. Queria uma opinião sua, como educador ambiental, sobre as sempre polêmicas linhas de financiamento para a Educação Ambiental.

Sorrentino – O fomento para a Educação Ambiental sempre foi um gargalo. O dinheiro do estado é burocrático de mais. É difícil fazer com que ele chegue à ponta. Por outro lado, o dinheiro de instituições privadas é investido a partir do interesses dessas instituições.

A solução para isso seria uma articulação desses fundos para que eles possam cumprir o papel da política pública.

Blog - O caso do Fundo Brasileiro de Educação Ambiental – FunBEA, por exemplo, está aberto para receber dinheiro de empresas com passivos ambientais...

Sorrentino - O FunBEA tem uma gestão participativa. Ela é formada por representantes do setor empresarial, Sociedade Civil, Universidades, poder público e cidadania direta. Esse conjunto elege os gestores de fundo. Gosto desse modelo. Apostamos no sucesso gestão do FunBEA.

Outro bom exemplo a ser seguido é o do Funbio, que, nasceu privado, mas que posteriormente foi encampado pelo estado e conseguiu ser um fundo como orientação publica, mas sem a burocracia estatal.


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